Inicio este blog, não com intuito de expressar os pensamentos mais profundos de minha mente, tampouco de criar polemicas e apologia qualquer tipo de droga ou comportamento. Ele simplesmente existe para a promoção, alimentação e desenvolvimento deste ser, chamado de Johan, que por vez e outra irá debater diante da porta oculta, indagando qual será a verdadeira realidade, serei eu e meu mundo, ou a porta, fruto de uma imaginação fértil?
Sobre os usos da nicotina
Aqui me encontro com um cigarro na mão e pouco sobre o que falar. Ao ver meu terrível amigo se consumir pela brasa lembro-me de como Alex, brilhante personagem de Anthony Burgess em Laranja Mecânica, ironicamente chamava este tipo de bastonete de breve prazer, câncer. Algo como eu e meus malchiks tragávamos uns cânceres ou algo do gênero.
Curioso o tipo de dependência gerada por este tipo de droga legalizada. Um trago ou dois para um prazer estimulante e algumas tragadas profundas para um efeito tranqüilizante. A dependência, segundo especialistas, deve-se ao déficit nos receptores nicotínicos do organismo. Mas, creio, a dependência psíquica é muito mais intensa. Como, por exemplo, a necessidade de fumar mais um cigarro neste instante por que minha “inspiração” se viu vexada por motivos desconhecidos. A falta de uma palavra é tudo necessário para “precisar” acender outro destes vis amiguinhos.
Talvez o efeito do tabaco ou da nicotina nem sejam tão vitais para revitalizar uma urgência literária, mas o efeito de fumar é inegável, como se as palavras saíssem aos borbotões da brasa em forma de fumaça espessa. Ou como se, observando as pequenas linhas no papel que embrulha o pacotinho cancerígeno, estas se enchessem de letras e poesias quando aproximo-o da boca para mais um trago. Estes os devaneios de um escritor, imagino um engenheiro, ou um contador, vendo-as preencher-se de contas e esquemas complexos. Ou talvez este seja apenas o caso de um lunático. De qualquer forma, foi uma figura de linguagem, talvez mereça um texto menos(ou mais) sério a respeito em outro momento.
É engraçado pensar que, hoje, mais pessoas morrem por doenças relacionadas ao fumo que de SIDA, acidentes de carro, alcoolismo, assasinatos, suicídios e incêndios juntos. Desta forma, mais lógico que investir em industria armamentista e armas nucleares, seria simplesmente incentivar o fumo nos países inimigos. Claro, seria um plano a longo prazo, mas é algo a se pensar. Enquanto você, potência global, se entope de tabaco e fuma e brinda comemorando uma vitória prematura e incerta, seu inimigo que mantém uma dieta saudável junto de um regime de terror psicológico provavelmente verá o final da batalha em melhor forma que você mesmo. Um pouco drástico, não tenho intenção de atacar políticas externas. Que tem um fumante a falar de outro?
Em meditações inúteis nas “pausas para fumar” em diversas situações, no trabalho, na escrita, na família(situação esta última mais que justificável...), sempre me peguei imaginando se a nicotina contida no tabaco de que usufruía era mesmo mais terrível ou letal que as demais 4700 substâncias tóxicas também presentes. Em conversas de bar, em mesas forradas de fumantes e demais dependentes, você ouve todo o tipo de coisa. Mais interessante é a mesa quando seus componentes são pessoas graduadas, conhecedores de determinadas áreas, especialistas afins. O vício sempre entra em pauta em algum momento. E aí você escuta todo o tipo de comentário tragicômico. Bem posso dizer que já ouvi, de pessoas estudadas e que tem minha admiração e mais profunda confiança todo o tipo de especulação e certeza sobre substâncias viciosas. Ouvi certa vez sobre os efeitos terapêuticos da nicotina(bem como de outras substâncias menos lícitas). Um comentário, que não lembrarei integral nem perfeitamente, decorreu sobre os efeitos positivos na nicotina, apoiado em fortes argumentos científicos, receptores nicotínicos para cá, liberação de adrenalina para lá. Mas, apesar de nem lembrar propriamente de que se tratava o contexto geral, fixei-me na idéia da menor toxicidade da nicotina em comparação às demais “trocentas” substancias tóxicas do cigarro.
Muito no entanto, e segundo a fonte altamente confiável que é a wikipédia, a ação da nicotina sobre os benditos receptores nicotínicos(que de tanto gastar a expressão já tenho como imagem mental diversos sujeitos estilo “porteiro de madrugada” que recebem pacotes de entregadores suspeitos e que tem um uniforme bege com um bordado que lhes indica “receptor nicotínico”) é bastante violenta, causando algo como uma “sobrecarga” nos mesmos, em grandes quantidades(o que eu imagino que seria o caso de um assíduo fumante), “bloqueando-os” e causando sua toxicidade.
Impressionante, não? Mas, de uma forma ou de outra, e geralmente da forma menos científica, os males do fumo são hoje um fato notório. A bem da verdade, os efeitos colaterais de quase todas as drogas consumíveis são conhecidos ou facilmente acessíveis a qualquer um. Enfim, antes que perca o fio da meada(tarde demais, cá estou eu acendendo um novo “câncer”, como diria Alex, e o infeliz é filho único, ou melhor dizendo, último) o conhecimento dos males do fumo nunca impeliu nenhum fumante de muitos anos a subitamente deixar seu vício(muitas vezes nem as conseqüências finais os fazem deixar seu vício). A nossa “geração saúde” continua fumando tanto quanto a anterior, e talvez mais.
Talvez hoje seja até mais fácil para entrar de cabeça num vicio destes. Sabendo-se de todas as conseqüências, não sobra nenhum monstro de sete cabeças no escuro para assombrar-nos desprevenidamente no futuro. Mas esta é uma ótica por demais pessimista, com certeza fruto do mau-humor causado pelo fim do maço.
No final, hoje estamos dispostos a sermos “levados” por tantas circunstâncias que um vicio a mais outro a menos não nos preocupa tanto. Claro, existem muitos fatores morais sobre toda essa tópica, mas, no momento dos últimos tragos nada disso pode causar qualquer preocupação. Continuamos buscando nossas “fugas da realidade”, o bom é pensar que, na realidade, grande parte do tempo nem é necessário recorrer a qualquer substancia estranha ao nosso próprio organismo. Somos, afinal, o berço de nossas maiores alucinações. Como dizem, há momentos que realmente precisamos de um cigarro, e outro em que o bom mesmo é “viajar” no oxigênio.
Johan